

Sim, sou ribatejana, natural de Santa Margarida da Coutada, a Sta. Margarida do Campo Militar. Vivi lá até aos meus 12 anos. Depois mudei para o concelho de Abrantes. Como já é Médio Tejo, já não é uma paisagem composta apenas de planícies. Crescer ali foi maravilhoso, das melhores coisas que tive na vida. Lembro-me de correr os cabeços com o meu pai à procura de um pinheiro que servisse como àrvore de Natal, do cheiro da terra molhada e dos regressos a casa depois da escola. Éramos poucos miúdos e eu sou filha única, era sempre uma festa.
2) Com que idade aprende a ler ? Lembra-se da sua professora primária. Como era ela?
Não recordo a idade mas sei que aprendi a ler muito cedo. Lia bem, não me enganava, fazia bem as pontuações, os meus primos achavam o máximo e a minha mãe não se cansava de me gabar. Tive duas professoras, na primária. Uma delas, a Dna. Justina, já tinha sido professora dos meus pais. Rigorosa! A prof. Glória era também muito exigente. Tinham ambas imenso trabalho comigo… era danada para a conversa!
3) Qual a história de encantar que marcou a sua infância, porquê?
Nunca me deixei levar por histórias de encantar, a sério. Lembro-me que gostava muito do Peter Pan, mas acho que não se pode chamar uma história de encantar…! Aquela fantasia da Terra do Nunca fascinava-me muito. Acho que todos queremos a ‘nossa’ terra do nunca. Não um sítio onde sejamos sempre crianças… mas o nosso mundo. E era isso que me entusiasmava- um mundo, uma ‘terra’ como eu queria!
4) Com que idade se apercebe que gostaria de ser jornalista
? Sempre o quis ser? ou nem sempre esse era o seu sonho?
Quando era miúda queria ser professora de inglês. Comecei cedo a estudar a língua e estava convencida que tinha futuro! Depois cresci, descobri outras coisas. A minha mãe tinha um amigo locutor de rádio que me disse que tinha uma boa voz. Nem fiz caso. Rádio? Que disparate! O ‘disparate’ virou caso sério. Comecei a fazer rádio por carolice aos 12 anos, numa rádio local. Depois, só depois, surge a paixão pelo jornalismo. Sempre na rádio, fiz programas de autor e noticiários… até entrar na faculdade. Depois o tempo escasseou… e apareceu a televisão!
6) Quem eram os seus jornalistas de referência durante a
sua adolescência? Porquê?
Lembro-me do José Rodrigues dos Santos, da Judite de Sousa, do Mário Crespo, a Luísa Fernandes, a Paula Magalhães, o Carlos fino. A imagem, o rigor, dei
xavam-me nervosa e entusiasmada ao mesmo tempo. Mas eu era mais rádio… o fascínio das vozes: o Sena Santos, o Adelino Gomes e, noutra vertente, dois Antónios: o Macedo e o Sala.
7) Onde se forma como jornalista?
Estudei no Instituto Politécnico de Portalegre, formei-me em
Jornalismo e comunicação. Eu e mais uns quantos colegas provámos que é possível vingar no mun
do profissional. Sem falsas modéstias. Lembro-me de alguém me perguntar se era ‘o Portalegre do Alentejo?’. Era, pois era. O curso deixou-nos muito preparados mas claro que só a prática nos dá tudo. Sentimo-nos muito orgulhosos por ter chegado a uma redacção e saber escrever uma notícia. Não temos poderes mágicos mas sabemos que a realidade é bem diferente. Ain
da durante o curso estagiei na Antena 1 e TVI e passei por 2 empresas de comunicação.
8) Qual foram os seus primeiros trabalhos no jornalismo?
Na rádio foram vários, não me lembro. Depois de terminar o estágio tra
balhei numa empresa de comunicação que tinha vários projectos de publicações: saúde, desporto, académica. Como estive no desporto, na Antena 1, estava mais confortável na área. Depois, passei por outra agência de comunicação onde escrevi sobre saúde. Essa foi uma área em que trabalhei bastante na TVI. Sei que no meu 2º dia de estágio em Queluz fui para o aeroporto com o repórter de imagem, esperar o corpo de uma português morto no Brasil. Dramático. Agosto. Horas a fio. Sol insuportável. Resistimos!
9) Lembra-se ainda do seu primeiro directo em TV. Que peça apresentou. Lembra-se?
Lembro. O 1º directo aconteceu exactamente um ano depois de ter en
trado para a TVI pela primeira vez, nessa altura ainda enquanto estagiária. Foi um directo de um incêndio no Belas Clube de Campo. Foi no Jornal Nacional, ainda não havia TVI 24. Acho que não correu mal… No estúdio, foi no dia 28 de Fevereiro de 2009, o TVI Jornal, as 14h.
10) Pivô ou repórter? Porquê?
Jornalista! Sempre! Enquanto jornalista preciso muito proc
urar, escrever e contar. Não faz sentido ficar só à espera que as notícias venham ter connosco para as comunicarmos. Faz sentido sermos nós a contá-las. E, de resto, um bom pivot é aquele que conhece a historia e a Históri
a. Que já esteve nos locais e sabe do que fala. E para isso é preciso trabalhar todos os dias. Informar e ser informado. Nada cai no colo. Não há sucesso sem trabalho. O estúdio dá-nos a postura que precisamos ter na rua, ensina-nos a ser disciplinados e mais formais. Hoje os pivots já são jornalistas e não vamos ser hipócritas: toda a gente sonha com o
lugar de pivot. Eu também sonhava mas mais nunca pensei que fosse uma realidade t
ão próxima!! Tenho um amigo que diz ‘hei-de estar a passar a rua, de bengala, e os meus olhos vão andar à roda à procura de uma história’. Nada mais certo!
11) Como foi dar a conhecer aos telespectadores a
residência oficial do Presidente da República?
Foi um trabalho muito engraçado. Um formato diferente, que ap
resentámos no Diário da Manhã. Pessoalmente, já conhecia o Palácio de Belém mas foi uma visita muito particular e muito agradável! Encontramos sempre coisas novas!
12) Lembra-se de alguma situação caricata em TV, que quando se recorda da-lhe vontade de rir, pelo acontecimento em si?
Várias… os realizadores esperam pelo final do jornal ou pela meteorologia para ‘aliviar um bocadinho’ e essas alturas são complicadas de gerir!! Eu consigo
mas nem sempre é fácil, há toda uma equipa a rir e nós temos de aguentar! São períodos muito longos, a concentração é máxima e há sempre qualquer coisa que falha. Lembro-me de ter um editor a canta
r os parabéns no meu auricular, durante o jornal, um assistente debaixo da mesa porque houve uma falha técnica, de ter trocado de camisa no meio do estúdio.
13) Para si, o que é ser jornalista?
É levantar pedras, mexer em papéis, acordar pessoas, fazer perguntas incómodas e não esperar as respostas. É respirar fundo, dormir nos intervalos do trabalho. É superar-se todos os dias, procurar mais, fazer melhor e ir mais além para contar aquilo que as pessoas ainda não sabem. Ensinaram há muito tempo que, independentemente do interesse que representam, todas as histórias são dignas e merecem, por isso, ser bem contadas.
Acredito que ser jornalista é quase como ser mãe: não ter horas, estar sempre disponível, sempre à procura do melhor momento e ter sempre uma palavra preparada. Na crónica do 2º aniversário do jornal ‘i’, Hugo Gonçalves dizia que «não é a mesma coisa ser jornalista e ser electricista. (…) Ninguém percebe de fusíveis e no entanto toda a gente comenta notícias. Ser jornalista é mais que um ofício, é uma tirania que
se escolhe.” Ser jornalista é difícil mas não trocava esta vida por nada!
14) 4 de Setembro de 2009. Que horas eram quando soube que seria a Patrícia a apresentar o Jornal Nacional de 6.ª, que até então tinha Manuela Moura Guedes na sua condução?
Nunca falei sobre este assunto. Já passaram quase 2 anos, já há algum distanciamento. Mas esta vai a ser a única vez. Sem me alongar… temos de recuar um dia.
Soube no final do dia 3 de Setembro.
15) Por quem soube que seria pivô nesse dia?
Fui convidada pela Manuela Moura Guedes. Perguntou-me se apresentava o jornal. Disse que sim. Fui convidada, não obrigada. Ao contrário do que se disse na altura.
16) Que misto de sensações a rodearam nesse momento e mais tarde às 20 horas em ponto, quando sabia que muitos portugueses queriam s
aber o que iria acontecer?
Aconteceu tanta coisa nesses dias que nem sei o que senti. Foi uma tarde muito complicada. Nervosismo, obviamente, e grande responsabilidade. O país inteiro estaria a ver o jornal naquele dia e a razão não era, naturalmente, por ser eu a apresentar.
17) Teve a oportunidade de falar com Manuela Moura Guedes após a apresentação do jornal? Em caso afirmativo, o que ela lhe disse?
Sim, falámos. A equipa do JN 6ªfeira estava à minha espera à po
rta do estúdio. A Manuela agradeceu o meu trabalho e eu agradeci o voto de confiança.
18) Como vê o TVI 24 no mundo do jornalismo?
Como uma potência emergente, assim como uma economia poderosa! Conheço bem o canal, ajudei ao nascimento. Está a dar passos pequenos mas sólidos e isso é o mais importante. Saímos em último lugar: lutamos contra o hábito, a História mas não desistimos, nunca! 2011 vai ser o ano do TVI 24.
José Gabriel Quaresma é jornalista na TVI na área do desporto juntamente com a sua esposa, editora de política, Carla Moita. Leia agora as revelações surpreendentes feitas pelo jornalista em exclusivo.
9) Como surgiu a oportunidade de redigir o livro de Pedro Mantorras – Livro Directo?
Na altura, eu e o Pedro éramos muito amigos. Um dia, ele veio a um programa da TVI e fomos almoçar. Não falámos do livro. À noite telefonei-lhe e perguntei-lhe: “Pedro, toda a gente tem um livro, não queres que eu escreva o livro da tua vida?”, e ele respondeu de imediato que sim. Seis meses depois, saía o Livro Directo, que foi top de vendas durante dois meses. Só foi pena termos editado o livro com a PrimeBooks, uma pequena editora, que não funciona nada bem, não promove os seus autores, e é gerida por uma pessoa muito mal formada. Se tivéssemos escolhido uma outra editora, o Livro Directo tinha sido um enorme sucesso, mais do que foi. Aliás, a editora é tão, diria, pouco ortodoxa, que eu e o meu advogado estamos a preparar uma acção para apresentar em tribunal, pois o livro foi publicado em Angola, à minha revelia. Há muitos milhares de euros desse negócio por liquidar, mas isso é um assunto para os tribunais. Apenas dizer, que comecei a tornar-me próximo de Mantorras, e vice-versa, quando estava a recuperar de uma operação ao meu joelho, numa clínica onde estava ele e Nuno Gomes. Ficámos amigos, até ao momento em que ele participou com o editor na alta traição de que falei.
10) Como se encontra o processo gerado em torno desse mesmo livro, pelo médico Bernardo Vasconcelos? Acha que havia motivos para a abertura desse processo?
Se havia motivos ou não, não me cabe a mim dizer. Bernardo Vasconcelos sentiu-se ofendido e processou-me, a mim, ao Mantorras e ao Benfica, curiosamente, não processou a editora, vá-se lá saber porquê? Mas se Bernardo Vasconcelos entendeu ter motivos de queixa, já o tribunal entendeu o contrário, no que a mim diz respeito. O que vou contar, não é público, aliás, é a primeira vez que é tornado público, o juiz de instrução decidiu não me pronunciar, pelo que eu, não vou a julgamento, ao contrário de Mantorras, mas apesar de sermos ambos arguidos, tínhamos defesas separadas, aliás, segundo o que me foi dado a saber, Mantorras nem compareceu no tribunal, nem eu... Dizer também, que Bernardo Vasconcelos chegou a ser expulso, pelo juiz, da sala de audiências por comportamento incorrecto. Eu sempre estive tranquilo. Se tivesse ido a julgamento tinha provas materiais para apresentar, mas ainda bem que não fui. Em 19 anos de profissão fui seis vezes a tribunal por crimes relacionados com abuso de liberdade de imprensa. Nunca fui condenado.
11) Uma das situações pelas quais o Zé ficará conhecido, é sem dúvida a queda do seu pivot (dente) em directo. Afinal o que se passou? Tinha ido há pouco tempo ao dentista, sentia-o mexer…
Hoje dá vontade de rir… Na altura foi muito mau. Estava no décimo oitavo directo do dia, eram perto de três da manhã. Vale e Azevedo tinha acabado de ser eleito presidente do Benfica, era a loucura dentro do pavilhão. Quando ele entrou fomos literalmente abafados pela multidão, perdemos cabos, auriculares, perdi o contacto visual com o cameramen. Quando Vale e Azevedo termina o discurso, já estava eu a fechar o último directo daquela longa operação especial, cai-me o dente da frente. Era um pivot que durava há uns quinze anos. Não abanava, não dava sinais de querer cair, mas caiu. Às quatro da manhã vieram dar-me o pivot de volta, tinham-no encontrado. Eu estava sentado numa cadeira, no meio de um pavilhão vazio, a deitar contas à vida…a reacção foi, “tenho que assumir isto!” (tudo em segundos) e assumi, foi o melhor que fiz, entrei para a história da televisão em Portugal e no mundo, pois não há registo de tal coisa ter acontecido a nenhum jornalista, em nenhuma televisão. Eu, neste caso, sou único.
Zé Gabriel quaresma fica sem o pivô em directo (5:10 min.)
12) Como é lá em casa, uma jornalista da área da política, Carla Moita, outro ligado ao futebol. Há entendimento possível?
Eu conheci a minha mulher em 1985, pelo que nós tornámo-nos jornalistas muito depois disso. Já foi mais fácil separar as águas. Ela, trabalha na TVI (também) há uns 12 anos, e sempre como editora de política, por isso é complicado não levar trabalho para casa. Mas sim, tem que haver entendimento…
13) O seu filho Rodrigo já pede ao pai para ir assistir aos jogos de futebol?
O Rodrigo já tem onze anos. Joga futebol federado (parece o Saviola) há seis. É ele quem me pede para ir ao futebol e eu vou, vou ver os jogos dele, para o ver e sentir a sua alegria. Depois, vamos também ver os jogos do Benfica. São momentos únicos, depois dos jogos vamos comer o nosso bife, como dois bons amigos lampiões.
14) A Maria ou o Rodrigo, algum sente especial apetência pelo jornalismo? Gostava de ver um filho seu nestas andanças?
Nunca pensei nisso, como qualquer pai, gostava que eles fossem aquilo que quiserem. Apetência, penso que não sentem nenhuma. Tanto um como outro, estão muito habituados a estar na TVI, vêm cá desde sempre, estão habituados a ver os pais na televisão. É algo que para eles é normal. Ambos gostam de ver as minhas reportagens, mas não mais que isso. Quando os pais estão em directo, ou a apresentar alguma coisa, eles só vêem quando estamos longe há muito tempo e já sentem saudades, aí, vêem para matar saudades, não mais que isso. A Maria quer ser actriz e o Rodrigo jogador de futebol.
15) Como vê a actual situação económica do país? Acredita que ainda há muitas medidas de austeridade a ser postas em prática?
Nesta matéria, assumo-me como um revoltado. Penso que os líderes políticos, que estiveram no poder e na oposição, durante os últimos dez anos, deviam responder criminalmente. Sinto-lhes um asco tão grande que não vou responder a esta pergunta, mas ainda acrescento, o povo português, na sua maioria não mereceu que tivessem lutado pela liberdade. O povo é oprimido por meia-dúzia de homenzinhos com gravata. É criminoso o que fizeram à minha geração, à do meu irmão, à dos meus pais e dos meus filhos. É criminoso. Sou a favor da presença da Troika. Pelo menos assim não me sinto roubado gratuitamente, para sustentar uma elite sem respeito. Assim sou roubado, para limpar a porcaria que essa elite fez e continua a fazer, mas sem a sensação que lhes estou a alimentar os caprichos. Eu penso que Portugal tem solução, tivesse políticos decentes. Assim… (vejam a campanha eleitoral) gastamos alguns milhões com eleições, nós, que não temos dinheiro para pagar o IRS do MAI…Isto é de loucos e nós participamos como actores nesta alucinação de Sócrates, Coelho, Portas e afins... É revoltante, mas pelo que parece só eu me revolto. Tenho que tomar Valeriana para aclamar!
16) Como é que vê o jornalismo do século XXI? Acha que existe pressão política nos meios de comunicação social?
Pressão existiu sempre, não é de agora, nem é um fenómeno da era moderna. A questão não está na pressão, mas em deixarmo-nos pressionar, ou não. Falo de pressão exterior, porque há muitos tipos de pressão. Claro que há pressão política, também. O jornalismo tem que se adaptar a esta nova dinâmica. A Aldeia Global deixou de ser aldeia, as plataformas de comunicação evoluíram e agora uma notícia do outro lado do planeta chega-nos em segundos. A liberdade de expressão é à escala global, já não falamos para um público, mas para públicos. É uma dinâmica e por isso mesmo em constante mutação, penso que é uma questão de adaptação, nada fácil, mas possível. Antes assim!
17) Que conselhos gostaria de deixar aos futuros jornalistas deste país?
Quem sou eu para dar conselhos. Mas, posso deixar um, deixem a vaidade, a televisão, o aparecer, os decotes, deixem de querer ser apresentadores, sejam jornalistas, o que quer dizer, sejam responsáveis, cumpram o código deontológico (algo que muitos seniores não fazem) e lutem sempre, em primeiro lugar pelo direito inqualificável, que é o da liberdade de expressão e pensamento. Depois, cumprindo as regras da profissão, sejam felizes.
Leia agora a entrevista, em exclusivo, a Alexandra Borges.
1) A Alexandra é natural de Lisboa, todavia cresceu no Alentejo. O que guarda dessa infância?
Sim, sou natural de Lisboa mas felizmente cresci em Beja, no Alentejo onde se brincava às escondidas na rua sem medos e com a garantia de uma infância com muito campo, liberdade e felicidade!
2) Quando andava na escola qual o (a) professor (a) que mais a marcou?
A Dona Leonor porque foi quem me ensinou a ler e a escrever. Era rigorosa, dava reguadas mas mostrou-me que com várias letras podemos escrever o mundo…
3) Desde sempre quis ser jornalista?
Sabia que queria ser comunicadora. Poderia ter sido apresentadora de TV, animadora de rádio ou qualquer outra coisa…desde que lidasse com o público! O jornalismo foi surgindo na minha infância como o caminho mais interessante e hoje digo que não tenho um emprego, nem um trabalho, mas um privilégio que me dá muito prazer!
4) Durante a sua infância quem eram os jornalistas que idolatrava na TV?
Miguel Sousa Tavares, Margarida Marante e Barata Feio…todos pela capacidade de comunicação e pelas grandes reportagens que assinavam.
5) Onde se forma?
No único curso de Comunicação Social que havia em Portugal…o da Universidade Nova, na altura, muito teórico, chato e virado para a imprensa escrita!
6) Qual foi o seu primeiro trabalho em jornalismo?
Não me lembro…mas recordo-me que um dos primeiros foi uma ama de acolhimento da segurança social de Vila Franca de Xira que tinha ao seu cuidado 2 irmãos e “matou” (por falta de auxilio e negligência) a menina de 5 anos e foi para a cadeia. Quem deveria ter ido para a prisão eram as técnicas e psicólogas da segurança social que colocaram os irmãos em casa da ama sem sequer a investigarem e, durante um mês, foram feitas várias denúncias escritas por maus tratos e os irmãos foram assistidos por várias vezes no hospital! Era uma morte evitável que me revoltou e que ainda hoje me indigna…pelos vistos, as técnicas da segurança social, continuam a dormir tranquilas…é o país que temos!
7) Como e em que ano surge a oportunidade de vir trabalhar para a TVI?
Comecei na TVE, como produtora e, quando surgiram as privadas fui convidada para as 3 e, na altura, optei por ir para o telejornal da RTP1 onde, pelos vistos o José Eduardo Moniz acompanhava de perto o meu trabalho sem eu nunca me ter apercebido…quando foi para a TVI, convidou-me e foi uma honra trabalhar com ele!
8) Qual foi a primeira grande reportagem que assinou na TVI?
Foi um acaso… Acho que foi um caso de subtração de menores…um pai que, se fechou num quarto de hotel com a filha de 3 ou 4 anos porque a mãe da menina não o deixava ter contactos com a criança. Recebi o telefonema na redação da TVI cerca das 13h e a grande reportagem (25 minutos) estava acabada às 20h e pronta para ser emitida…
9) Como nasce a reportagem de investigação em televisão?
A ideia, normalmente, parte do jornalista mas tem que ser aprovada pela direção de informação. Depois seguem-se muitos contactos informais e recolha de documentação para escolher os entrevistados, o ângulo de abordagem e um fio condutor que ajude o telespectador a entender a história…a etapa seguinte são as filmagens, visionamento do que se filmou, escrever e organizar a história e montá-la com um editor de imagens…a fase final é a escolha da música e do grafismo. Há países em que levam 3 anos a fazer uma grande reportagem…por cá demoramos cerca de um mês!
10) Acha que o documentarismo tem uma duração definida?
Acho que deve ser decidido caso a caso… Não gosto de regras fixas!
11) Há situações em que tem de estar longe dos seus gémeos. Eles já pedem para ver a mãe na TV, ou passa-lhes completamente ao lado?
Odeiam tudo o que tenha que ver com a TVI porque sentem que lhes rouba a mãe…nunca lá quiseram ir e recusam-se a ver a mãe na TV… Estou a esforçar-me para que entendam que eu amo aquilo que faço, como desejo que, um dias, também eles se divirtam a trabalhar tanto como eu…Mas, quando os telespectadores me abordam na rua para me darem os parabéns pelo meu trabalho, sei que sentem um orgulho muito grande…
12) Uma das reportagens que a marcou certamente foi « Infância Traficada», onde esteve alguns dias. Como nasce esta reportagem?
Foi uma reportagem em que tive que lutar com a Direção de informação da TVI para a fazer mas que, quando voltei, foi o programa mais visto do dia, do mês e do ano…chegando a ultrapassar a novela de prime time. Foi um orgulho é certo e, só depois do sucesso deste trabalho, a Direção de Informação iniciou um espaço informativo autónomo de grande reportagem que se passou a chamar: Repórter TVI .
13) Como descreve a sua estadia no Gana?
Éramos 2. Eu e o repórter de imagem…as televisões estrangeiras viajam com grandes equipas, nas portuguesas não há dinheiro para isso, por isso, o jornalista tem de fazer tudo! O nosso dia de trabalho começava às 6 da manhã e ia até às 20h…o que fazíamos? Filmar, filmar, filmar, filmar o máximo de material que conseguíssemos porque só tínhamos 10 dias e para montar um minuto em televisão tem que se filmar uma hora!
14) Não encontrou entraves à sua reportagem no terreno, nomeadamente pelos exploradores dessas crianças?
Claro que sim mas isso são ossos do oficio…é preciso saber lidar com isso, protegermo-nos e não colocarmos a vida das crianças em perigo e esta era a minha maior preocupação!
15) O que aconteceu às crianças que os portugueses ajudaram a resgatar com a compra do CD “Filhos do Coração”.
Estão num orfanato americano a estudar e têm o seu futuro garantido durante os próximos 10 anos graças à ajuda dos portugueses…em breve algumas poderão partir para estudar em Universidades dos EUA. A organização Touch a Life Fundation e a Pam Cope em quem confio cegamente são quem cuida, diariamente, estas crianças!
16) Tem mantido contacto com essas crianças?
Claro…sempre. São pequenos grandes milagres. Já falam inglês, tocam instrumentos musicais, fazem teatro e, o que mais me impressiona é o brilho no seu olhar e o sorriso de felicidade que elas têm estampados no rosto cada vez que a organização me envia fotografias…SÃO MILAGRES…
17) Depois de dois anos, voltou ao Gana. O que encontrou?
Alguns milagres de crianças que tinham sido resgatadas por a nossa equipa 2 anos antes…algumas que tinha identificado desaparecerem e milhares que continuam a sofrer todos os dias! É duro!
18) Sentiu a necessidade de dar voz a essas crianças?
É o mais importante porque são essas vozes que vão marcar o futuro daquele país. Tenho a certeza que, daqui a uns anos, alguma dessas crianças será eleita presidente do Gana e ela própria acabará por erradicar o tráfico e a escravatura infantil do país…e esta é a grande reportagem que sonho fazer um dia!
19) Acredita que qualquer jornalista poderá fazer uma reportagem deste género?
Francamente, acho que há jornalistas que têm perfil para este tipo de trabalhos e outros que não têm…tal como eu tenho plena consciência que não tenho perfil para fazer cobertura de, por exemplo, casamentos reais ou visitas do papa e outros colegas meus são muito bons a fazê-lo!
20) Como vê o jornalismo do século XXI? Acha que se pode falar em isenção, independência?
Acho que é difícil para um jornalista ser independente…tem que se estar disponível para pagar o preço da independência…eu já tenho pago preços muito altos por lutar pela minha isenção, dignidade, verticalidade, rigor e independência de que não abdico, nem abdicarei nunca!
21) Que conselhos gostaria de deixar aos futuros jornalistas deste país?
Que a motivação pela qual querem abraçar esta profissão seja a correta…eu dei aulas na faculdade e muitos dos meus alunos queriam ser jornalistas para serem conhecidos, viajarem e terem uma vida de aventura! Se querem isto vão para pilotos e hospedeiras de bordo!
22) Gostava que um dos seus filhos lhe seguisse os passos?
Gostava que ambos os meus filhos mantivessem a sua identidade e amassem a sua profissão como eu amo a minha…sei que assim, seriam bons no que escolhessem fazer e, sobretudo, muito felizes!
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